Ao contrário do “tradicional”, o treino funcional faz com que vários músculos e articulações trabalhem em simultâneo, de forma coordenada e sinérgica

Quer melhorar o gesto técnico do seu desporto, da sua atividade preferida? Deseja melhorar a sua qualidade de vida ou mesmo poder brincar com o seu filho, neto, sobrinho ou amigos? O treino funcional é um método de treino que visa o equilíbrio das estruturas musculares, a prevenção de lesões e a melhoria da performance de atletas.

Muitas vezes, por questões estéticas ou mesmo falta de informação, as pessoas fortalecem apenas a musculatura mais superficial e de forma isolada, sem se preocuparem com o movimento como um todo. Isto acontece frequentemente na musculação convencional. Os músculos fortes ficam cada vez mais fortes e consequentemente os músculos mais fracos (e não menos importantes) ficam cada vez mais fracos. Esta forma de treino gera um desequilíbrio progressivo, com redução da eficiência dos movimentos, o que se torna fonte de lesões comuns.

A forma como os exercícios são realizados nos aparelhos convencionais de musculação reduzem a exigência da coordenação e estabilização que o exercício livre exige, pois estes aparelhos já servem como estabilizadores das articulações.

O treino funcional é o treino do corpo nas diversas formas em que este é suposto se movimentar, quer seja nas atividades do quotidiano, quer em atividades desportivas.

Treinar movimentos e não músculos

Ao contrário do treino “tradicional”, que dá prioridade ao trabalho isolado de determinado grupo muscular, ao envolver todo o corpo num exercício, o treino funcional faz com que vários músculos e articulações trabalhem em simultâneo, de forma coordenada e sinérgica. Ou seja, o trabalho muscular não é realizado isoladamente. Os exercícios são executados de forma global (forma em que a musculatura é solicitada nos movimentos do dia-a-dia ou de um desporto específico). Assim, toda a cadeia muscular é fortalecida, gerando mais força, potência muscular, estabilidade, equilíbrio e coordenação motora.

Podemos basear a prescrição do treino funcional com base nos 4 pilares de movimento humano:

Locomoção – a função humana mais básica. Implica manter o centro de gravidade ao longo de uma linha horizontal. Locomoção ocorre quando se caminha e é uma das mais importantes atividades que o corpo humano realiza.

Mudança de nível – envolve movimentos que permitem baixar/levantar o centro de gravidade do corpo numa direção vertical. Treinar mudanças de nível num treino irá melhorar a performance em atividades simples como levantar um saco com compras ou mesmo em movimentos mais complexos como apanhar uma bola baixa num jogo de ténis.

Empurrar e puxar – estes são os tipos de movimentos mais comuns no ginásio (a maioria das máquinas funcionam empurrando ou puxando uma resistência). 80% dos movimentos deste pilar são executados pela parte superior do nosso corpo. De referir que na vida quotidiana/desportiva este tipo de atividades são realizadas em pé e não sentadas como no treino tradicional de ginásio.

Rotação – talvez o mais importante mas ao mesmo tempo o mais negligenciado. Uma análise atenta ao sistema muscular esquelético permite perceber que o corpo humano está concebido para rodar. 87% das fibras musculares estão orientadas numa direção diagonal ou horizontal. A força de rotação é a base para toda a potência atlética! Segundo Paul Chek, especialista de referência na área dos exercícios corretivos e de alta performance, “treinar rotações não é uma opção mas sim uma obrigação” É de extrema importância funcional incluir movimentos de rotação em toda e qualquer prescrição de treino.

Qualquer tipo de movimento (do mais simples ao mais complexo) utilizado quer no dia-a-dia quer em gestos desportivos, integra-se num (ou mais) destes pilares.

Por tudo isto considero que o treino funcional é uma excelente ferramenta, não só para melhorarmos as nossas atividades do dia-a-dia, como também a nossa prestação. Seja numas férias na neve, seja numa maratona ou mesmo em desportos de alta competição.